A transformação do software em serviços prestados pela internet traz a agilidade e a simplicidade da web para os programas corporativos.
Encomendar um software ao departamento de tecnologia costuma envolver uma boa dose de burocracia na maioria das empresas. E não se trata de pura implicância das áreas que pedem os sistemas. Segundo estatísticas dos especialistas americanos Bryan Maizlish e Robert Handler, depender da tecnologia é mesmo uma etapa irritante: 72% dos projetos atrasam, estouram o orçamento ou ficam incompletos. O processo tradicional começa com a aprovação de compra ou desenvolvimento e passa pela elaboração de um documento exaustivo de requerimentos técnicos, testes, eventuais compras de hardware — até que, finalmente, o programa esteja disponível para uso. Mas existe também a alternativa da web.
Com a popularização do modelo de software como serviço, basta entrar numa página da internet, sacar um cartão de crédito e pronto: o programa pode ser usado instantaneamente. Não há necessidade de treinamento profundo, manutenção nem extensos períodos de implantação. No Hospital das Clínicas, em São Paulo, mais de 100 pesquisadores utilizam um software de estatísticas que roda inteiramente na web. “Cada área pode usar seu orçamento da maneira que desejar”, diz Marcio Biczyk, diretor de tecnologia do hospital. “E isso quer dizer descentralização e agilidade.” É claro que não significa uma sentença de morte para o departamento de tecnologia — apenas um uso mais racional de seus recursos.
A consultoria Gartner batizou o fenômeno de “consumerização” das aplicações empresariais. Os grandes sistemas usados por uma companhia, como o de gestão empresarial, devem continuar no modelo tradicional de compra de licença e implementação complexa. Mas necessidades localizadas serão cada vez mais oferecidas pela internet. O mercado mundial para esse tipo de aplicação ainda é pequeno, embora cresça rápido.
Os 5,1 bilhões de dólares movimentados no mundo no ano passado devem saltar para 11,5 bilhões em 2011 — cerca de um quarto do total das vendas de software corporativo. Na construtora Gafisa, a área de vendas precisava de um software para administrar o relacionamento com clien tes. A idéia era permitir que os vendedores tivessem um controle efetivo das visitas e os contatos sempre à mão. Sob o comando do diretor de vendas de novos canais, Ademar Guedin Júnior, a empresa fechou contrato no início do ano com a Salesforce.com para que 200 funcionários da área usem o software fornecido via internet.
O departamento de tecnologia foi envolvido apenas para fazer pequenas ligações com os demais sistemas.
Esse é o modelo do departamento de tecnologia do futuro, na avaliação do Gartner. Ele deixará de cuidar de questões técnicas, como a manutenção de hardware e software — que consome hoje até 80% do orçamento tecnológico –, para assumir um perfil estratégico.
Quem escreveu: Camila Fusco
Quando: 01/04/2008
Onde: Revista Exame
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